Foto: Eduardo Ramos (Diário)
Desde o ano passado, o Diário acompanha a situação de prédios históricos da cidade que, hoje, encontram-se abandonados ou deteriorados. Parte importante da memória da cidade, a reportagem chama a atenção para o estado dessas edificações. Nesta edição, conta-se um pouco da história e o destino do prédio da Sociedade União do Caixeiros Viajantes, a SUCV. O imponente prédio, que abriga parte da história de Santa Maria, deve ter sua parte externa reformada ainda neste semestre, é o que promete o Poder Público.
No auge das ferrovias no Brasil, no começo do século passado, Santa Maria tinha a grande vantagem de uma localização privilegiada bem no meio do Estado. Por servir como o local ideal para viajar até qualquer canto do Rio Grande do Sul, a cidade passou a atrair diversos comerciantes, como os caixeiros-viajantes. Esses profissionais atravessavam as cidades vendendo produtos variados.
Naturalmente, começaram a surgir associações para representar a classe, uma delas sendo a Sociedade União dos Caixeiros Viajantes.
Em 1926, o grupo inaugurou a sua sede. Localizada em frente à Praça Saldanha Marinho, o prédio da SUCV é uma vista tradicional da paisagem santa-mariense. Ele recebeu o nome Edifício João Fontoura Borges, em homenagem ao presidente da SUCV e idealizador da obra. A edificação é conhecida por alguns feitos e momentos marcantes, como abrigar o primeiro elevador da cidade, e ser palco de um discurso de Getúlio Vargas em 1930, que falou das sacadas do prédio para a população.
Durante anos, a SUCV também abrigou secretarias do governo municipal. Até 2018, quando aconteceu um incêndio no fosso de luz. O fogo não deixou feridos graves - ainda que 18 pessoas precisaram de atendimento médico por inalação de fumaça - mas o acontecimento chamou a atenção para algumas irregularidades, como a falta do alvará de incêndio e alguns extintores vencidos. Por conta disso, parte do prédio foi interditado e assim permanece até hoje.
Foto: Eduardo Ramos (Diário)
Na janela, uma mancha de tinta vermelha deixada por um protesto em 2013. Na época, o prédio abrigava secretarias municipais
A REFORMA
Ainda em 2019, a prefeitura afirmou que o poder público e os proprietários das lojas do primeiro andar do prédio entraram em um acordo para realizar reparos e melhorias necessárias. As obras incluiriam a reforma da fachada do prédio, do telhado, da rede elétrica e da execução do Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI).
Até agora, as reformas não aconteceram. Quando questionada, a prefeitura afirma que, neste mês, será realizada uma reunião com os condôminos do prédio - a própria prefeitura e empresários responsáveis pelos três estabelecimentos comerciais no térreo - para "estabelecer o cronograma das obras a serem realizadas". Quanto ao tempo que a obra deverá durar, o secretário de Administração e Gestão de Pessoas de Santa Maria, Marco Mascarenhas, disse que, no momento, é inviável fazer essa previsão.
- É difícil precisar no momento, na verdade a gente vai definir pelo cronograma. Eu não tenho condições de passar um posicionamento correto em relação a isso. Mas a gente imagina, a gente prevê que isso deve ocorrer pelo menos no primeiro semestre do ano. Para afirmar direitinho quanto tempo vai demorar a gente precisa sentar com a equipe técnica e daí definir, estabelecer esse cronograma - explicou Mascarenhas.
Na primeira fase, serão recuperados os telhados e a fachada. Na segunda, serão feitas as melhorias na parte elétrica e execução do PPCI. A expectativa é que a reforma da área externa comece no primeiro semestre de 2022. Para essa obra, o investimento será realizado pela prefeitura e pelos empresários do prédio, o valor estimado é de R$180 mil. O secretário Mascarenhas aponta que a verba já está garantida
- Ela (reforma da área externa) basicamente já está 'ok' em termos de valores, já existe uma previsão e de orçamento e de disponibilidade de orçamento, tanto por parte da prefeitura quanto por parte dos demais proprietários ali - explicou o secretário.
Para a reforma da parte interna, ainda será encaminhado um outro projeto para o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (Comphic). O Comphic precisa aprovar as obras, uma vez que o prédio é considerado um patrimônio histórico da cidade e, portanto, tombado. Sem especificar datas, o Executivo disse que a entrega do projeto deve ocorrer ao longo do ano. De acordo com Mascarenhas, será publicada uma licitação para o definir uma empresa que desenvolverá o projeto. A área interna é de propriedade da prefeitura e, portanto, o investimento para a reforma é responsabilidade exclusiva do executivo municipal.
OS PRAZOS
- Início da reforma da área externa: Primeiro semestre de 2022 (até 30 de junho)
- Entrega do projeto de reforma da área interna: Final de 2022 (até 31 de dezembro)
Foto: Acervo do Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria
Fachada do prédio da SUCV em algum momento entre 1950 e 1990, autoria desconhecida.
CONDÔMINOS
A reportagem entrou em contato com o atual síndico do prédio, proprietário de uma das lojas que ficam no térreo do prédio. Entretanto, ele preferiu não se manifestar. Da mesma forma, o Diário conversou com os outros lojistas, que também optaram por não falar no momento.
PRÉDIOS DA SÉRIE
- Condomínio Galeria Rio Branco
- Casa de Cultura
- Prédio da antiga sede da União Santa-Mariense de Estudantes (USE)
- Sociedade União dos Caixeiros Viajantes (SUCV)
- Clube Caixeiral
- Gare da Viação Férrea
- Prédio do antigo Hotel Jantzen
- Prédio da Soteia
*Conhece algum prédio abandonado em Santa Maria e quer saber sobre a sua destinação? Manda um WhatApp para o Diário: (55) 99136-2472